ATA DA QÜINQUAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 22-11-2001.

 


Aos vinte e dois dias do mês de novembro do ano dois mil e um, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e dezoito minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear a Independência do Estado do Líbano, nos termos do Requerimento nº 242/01 (Processo nº 4001/01), de autoria do Vereador Fernando Záchia. Compuseram a MESA: o Vereador Fernando Záchia, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Ricardo Malcon, Cônsul Honorário do Líbano; o Desembargador Délio Spalding de Almeida Wedy, representante do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul; Dom Antônio Cheuiche, Bispo Auxiliar de Porto Alegre; o Senhor Zilmar Moussale, Presidente da Sociedade Libanesa de Porto Alegre; o jornalista Ercy Torma, Presidente da Associação Riograndense de Imprensa; a Senhora Lourdes Cafruni André, viúva do jornalista Alberto André; o Vereador João Antonio Dib, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Vereador Fernando Záchia convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução dos Hinos Nacionais Brasileiro e Libanês e solicitou ao Vereador João Antonio Dib que assumisse a direção dos trabalhos. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Fernando Záchia, em nome das Bancadas do PMDB, PDT, PC do B, PSB E PHS, registrou o transcurso, no dia de hoje, do qüinquagésimo sexto aniversário de independência do Estado do Líbano, destacando a aprovação unânime da proposta que ensejou a realização da presente homenagem e historiando a chegada dos primeiros imigrantes libaneses ao Estado do Rio Grande do Sul. Em continuidade, o Vereador João Antonio Dib solicitou ao Vereador Fernando Záchia que assumisse a direção dos trabalhos e, após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador João Antonio Dib, em nome das Bancadas do PPB e PSDB, prestou sua homenagem aos cinqüenta e seis anos da declaração da independência do Estado do Líbano, discorrendo sobre aspectos alusivos à geografia física e humana do país e dissertando sobre dados referentes à cultura, atividades econômicas, regime político e atrações turísticas de suas principais cidades. O Vereador Estilac Xavier, em nome da Bancada do PT, externou sua satisfação em participar da presente solenidade, saudando o Vereador Fernando Záchia pela iniciativa de propor a presente homenagem ao Estado do Líbano, pelos seus cinqüenta e seis anos de independência e propugnando pela adoção de medidas políticas que garantam a implementação de propostas de paz para o Oriente Médio. A Vereadora Clênia Maranhão, em nome da Bancada do PPS, teceu considerações acerca da importância do papel histórico desempenhado pelos povos que deram origem ao Estado do Líbano, ressaltando a importância do respeito às diferenças étnicas para a resolução pacífica dos conflitos e para a garantia da democracia e da liberdade nesse país. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Ricardo Malcon, que destacou a importância da homenagem hoje prestada pela Câmara Municipal de Porto Alegre ao Estado do Líbano, pelos seus cinqüenta e seis anos de independência. Na oportunidade, o Senhor Ricardo Malcon procedeu à entrega da Comenda Ramos do Líbano à Senhora Lourdes Cafruni André, como homenagem póstuma ao jornalista Alberto André. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e sete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Fernando Záchia e João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador João Antonio Dib, como Secretário "ad hoc". Do que eu, João Antonio Dib, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Independência do Estado do Líbano. Compõem a Mesa o Ex.mo Sr. Cônsul Honorário do Líbano, Dr. Ricardo Malcon; o Ex.mo Sr. Representante do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Délio Spalding de Almeida Wedy; Reverendíssimo Dom Antônio Cheuiche, Bispo Auxiliar de Porto Alegre; Sr. Presidente da Sociedade Libanesa de Porto Alegre, Sr. Zilmar Moussale; Sr. Presidente da Associação Rio-Grandense de Imprensa, Jornalista Ercy Torma; Sr.ª Lourdes Cafruni André, em seu nome saúdo seus demais familiares e o saudoso e querido Alberto André; Srs. integrantes da comunidade libanesa; Srs. Presidentes, Dirigentes e Representantes de autarquias federais e estaduais; Srs. Presidentes e Representantes de entidades de classe; Srs. Oficiais Superiores; Srs. Vereadores e demais autoridades presentes.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional e o Hino Nacional do Líbano.

 

(Executam-se o Hino Nacional e o Hino Nacional do Líbano.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Esta Sessão Solene foi proposta em conjunto pelos Vereadores Fernando Záchia e João Antonio Dib.

Convido o Ver. João Antonio Dib a assumir esta presidência, para que este Presidente possa também fazer a sua manifestação como um dos dois proponentes desta Sessão Solene em homenagem à independência do Líbano.

 

(O Ver. João Antonio Dib assume a presidência dos trabalhos.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): É com satisfação que concedo a palavra ao Ver. Fernando Záchia, Presidente desta Casa, para homenagear o Líbano, no dia dos seus 50 anos de Independência, em nome das Bancadas do PMDB, PDT, PC do B, PSB e PHS.

 

O SR. FERNANDO ZÁCHIA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Somos contemporâneos de uma época que será um divisor na história mundial. Estamos vivendo tempos difíceis onde a humanidade acordou de um pesadelo em que o radicalismo pautou as ações globais e paralisou o mundo. Os trágicos acontecimentos que a civilização acompanhou ao vivo, quando das ações terroristas nos Estados Unidos, fez com que todos meditassem sobre o momento. Não cabe mais aqui e nesse instante, analisar o porquê desses atos radicais. Mas sempre é importante lembrar que, assim como o povo americano está sofrendo, o povo árabe sofre há séculos pela opressão, preconceito e pela pior das perseguições, que é o racismo. Hoje, por incrível que possa parecer, ainda é um povo olhado com desconfiança e... medo...

Mas é um povo vencedor. Contra todas intempéries, todos tipos de boicotes econômicos lutou e luta para mostrar sua independência, seu orgulho, sua cultura, sua tradição, sua raça e sua religião. Poucos povos travaram tão dura batalha contra os preconceitos como o povo libanês. Mas estaremos presentes, senão nossos filhos, ou os filhos de nossos filhos, para acompanhar a verdadeira redenção de nossa família, de nosso povo e o reconhecimento àqueles que ajudaram a construir, com seu trabalho, um mundo mais humano, igual, sem as barreiras econômicas e sociais que hoje estão tão presentes. Como diz um ditado árabe: “Quando você deseja algo do fundo do coração, o universo inteiro conspira a seu favor”.

Em 1913 meus avós paternos, Barbar e Labibe, partiram do Líbano carregando na pouca bagagem todos seus sonhos e esperanças. O desejo de trabalhar e construir um futuro melhor numa terra nova trouxe o casal para a cidade de Pelotas e posteriormente para Herval. Tiveram nove filhos. Igual a tantos outros imigrantes, meu avô Barbar era mascate e meu pai, José Alexandre, contava que ele partia na sua carreta com a manhã ainda escura para visitar um por um dos pequenos comércios da região. A volta era imprevisível e demorava até dias. Enquanto isso, minha avó Labibe se desdobrava nos cuidados com os filhos e com a casa humilde mas que sobrava dignidade, trabalho e amor.

Meu pai com orgulho de ser filho de libaneses contava histórias que ainda hoje recheiam minha vida, povoam minha imaginação e sustentam meus ideais na luta diária na defesa dos interesses da comunidade porto-alegrense e gaúcha. São pequenas lições de vida que guardo como um tesouro sagrado.

No meu idealismo está o exemplo de meu pai, modelo de homem público como professor, como político e como representante da comunidade quando foi Presidente da Sociedade Libanesa em 1973 e Presidente do Sport Club Internacional em 1968. Quando propus esta homenagem, juntamente com o Ver. João Antonio Dib, à Câmara Municipal e foi aprovada por unanimidade, tinha em mente, entre outras coisas, enaltecer os 58 anos de independência da República do Líbano, pátria dos meus avós.

Mas, quanto mais eu recordava da saga de minha família e da família libanesa neste País, mais me convencia da sabedoria desse povo que escolheu o Brasil como sua segunda pátria. Ao fugir das perseguições econômicas e políticas, das guerras e da falta de oportunidade que lhe eram oferecidas na época, encontraram um País de portas abertas, com um povo generoso e hospitaleiro que propiciou mais do que a chance de construir juntos um país do futuro. Este País, este povo, devolveu a ele a oportunidade de poderem sonhar novamente.

Sonhar e viver uma vida de paz, segurança e certeza de progresso com o trabalho. Sempre com o trabalho honesto, de sol a sol, incansável e que ajudou a construir esta nação de oportunidades, democrática e multirracial. Nós, descendentes e libaneses, somos agradecidos a este povo e a este País e, certamente, este País nos é grato pelo que ajudamos a construir.

É por isso que me orgulho de ser brasileiro e ter raízes libanesas.

Salve a Paz, Salve o Líbano independente e todo o seu povo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Ver. João Antonio Dib está com a palavra, também como proponente, em nome das Bancadas do PPB e PSDB.

 

O SR. JOÃO ANTONIO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) A República do Líbano, considerada a “Suíça do Oriente”, está localizada no Oriente Médio. Tem fronteira com a Síria e Israel e é banhada pelo Mar Mediterrâneo, onde suas costas são entrecortadas. Sua capital é Beirute.

O Líbano tem 270km de extensão por 70km de largura máxima. É um país rochoso, semeado de ruínas grandiosas. Tem duas cadeias de montanhas que o atravessam, paralelas ao litoral. Sua população é de 3,5 milhões de habitantes, sendo que, no Brasil, o dobro desse número é constituído por descendentes de libaneses (em torno de 7 milhões).

O país obteve sua independência em 22 de novembro de 1943.

A forma de governo é República Parlamentarista.

Sua bandeira se compõe de uma larga faixa horizontal, tendo no centro um cedro verde com tronco marron, entre duas faixas vermelhas.

A maioria dos habitantes é árabe; a língua dominante é o árabe, embora o francês e o inglês sejam muito usados.

O Líbano pertence à Liga Árabe, é o único Estado Árabe em que o cristianismo predomina, mas não a religião oficial. A religião é variada. Existe uma pluralidade de religiões com muçulmanos, drusos, ortodoxos, armênios, católicos e protestantes, mas o maior grupo religioso é o dos maronitas, que se estabeleceu na área no século VII, assim chamados por causa de São Maron, morto no século V.

Seus antepassados, Cananeus conforme a Bíblia e chamados Fenícios pelos historiadores, eram marinheiros destemidos e grandes construtores de navios. Viajavam por todas as partes do mundo antigo.

Sua capital é Beirute, cuja origem é difícil de determinar. Sabe-se que havia ali a presença do homem desde o período neolítico. Na época fenícia, a cidade já era grande. Com a invasão grega, Alexandre, o Grande, fez ali se desenvolver a arte helênica, e os romanos, quando a dominaram, fundaram a Escola de Direito, no ano de 222 A.C., passando ela a rivalizar com Atenas e Bizâncio.

Apesar das invasões, Beirute conseguiu manter-se como centro de cultura e atividades importantes. Beirute possui cinco universidades como centros de cultura, para onde acorrem alunos de outros países também. A Escola de Direito, fundada durante o Império Romano, já não mais existe, foi destruída por um terremoto seguido de incêndio, mas foi tão grande o papel dessa Escola na criação do Direito Romano que foi ali que os juristas se refugiaram quando da decadência do Império Romano.

O Líbano tem muitas belezas para apresentar aos turistas; quem sai de Beirute e vai em direção ao norte, vale a pena conhecer a Grutas de Jeita, no Nahr el Kalb, Rio do Cão, famosa por suas belezas. Possui várias salas iluminadas, cada uma com um nome diferente, conforme o feitio dos estalagmites e estalactites. Pode-se fazer um passeio de barco, indo de uma sala para outra e observar mais essa maravilha da natureza.

Passando a gruta, vamos encontrar Jounie, próximo da costa, a gigantesca imagem de Nossa Sr.ª de Harissa, padroeira do Líbano, no topo de uma montanha da qual recebeu o nome. Para alcançar o alto, pode-se ir de carro pela estrada que a circunda ou usar o teleférico. Aos pés da Santa existem duas igrejas, uma Maronita e outra ortodoxa. Com a divisão do Império Romano, o Líbano ficou sob a autoridade bizantina, menos liberal que a romana. O 1º Imperador Cristão, Constantino, tornou o país oficialmente cristão no século VII e mandou destruir os templos pagãos, inclusive Baalbek. O povo libanês é muito religioso. Espalhadas por toda a parte pode se ver igrejas, mesquitas, conventos, mosteiros, imagens da Virgem Santa e pequenos altares ao longo das estradas. As pessoas estão de tal modo integradas ao espírito religioso que se apresentam como membros de uma religião, seita ou rito. O país não tem uma religião oficial, mas nenhum libanês pode ser ateu, uma vez que está incluído nos livros de uma autoridade religiosa.

Visitar o Líbano é um prazer sempre renovado. A cidade de Jbeil, antiga Biblos, é muito apreciada por sua beleza, seu teatro e colunata. Ela foi outrora famosa pelo papiro que exportava. Seguindo-se rumo ao norte, passa-se por um túnel e chega-se a Ras Chekka. Poucos quilômetros adiante há Trípoli. A cidade que deve seu nome a uma antiga Constituição, que a dividia em três bairros, sendo cada um a sede federal de uma das três cidades fenícias: Saida, Sour e Tsour. Após haver sido várias vezes conquistada por romanos, árabes e franceses, foi dominada e destruída pelo Sultão turco Chaloun Malek. Uma nova cidade foi construída próximo da antiga e voltou a ser uma das principais cidades do Oriente e a mais importante, depois da capital do país. Mais para o leste, via Chekka, chega-se ao cume do Monte Becharré e aos famosos Cedros do Líbano, marca registrada do país, uma vez que o cedro é o emblema da sua bandeira. Os cedros, antigamente, cobriam a montanha libanesa. De todas as partes chegavam encomendas para construções de vários tipos. Estas árvores são um símbolo de grandeza e força. Hoje em dia, os cedros ainda existem reunidos em um bosque, um dos mais antigos e reservados.

E o visitante segue seu caminho até Becharré, que é muito lembrada por ser o berço do grande poeta Gibran Khalil Gibran, alma inspirada que soube expressar nobres sentimentos e grande sabedoria em seus poemas já traduzidos para múltiplos idiomas.

Por toda parte do país, onde quer que se vá, encontramos ruínas fenícias, romanas, do tempo dos cruzados e árabes, sem falar nos gregos e romanos. É que cada um desses povos ali deixou sua marca indelével para a posteridade. Os libaneses são afáveis, alegres, gostam de festas, de música e de dança. Adaptam-se facilmente onde quer que estejam. Não fazem distinção de raça.

O Líbano é um pequeno país - cerca de 10.000 km2 ­ -, com um grande povo! E a letra do seu hino, que nós ouvimos no início desta Sessão, diz da grandeza desse povo. Diz a letra do hino:

“Somos todos da Pátria / De sua honra e sua bandeira. / Nossa espada, nossa escrita, / Enchem os séculos de glória. / Nossos prados, nossos montes, / São berços de homens / Nossas palavras, nossos feitos / Lutam por ideais. / Somos todos da Pátria / De sua honra e sua bandeira.”

Sr. Presidente, meu caro cônsul do Líbano, desse maravilhoso país, da cidade de Kfour, vieram meus pais, Antonio e Júlia, e aqui viveram e morreram. Quando saíram de lá, meu tio-avô, João Dib, que era o Prefeito, pediu à minha mãe, que estava grávida: - se nascer homem, chama-o de João, que eu quero continuar. Este meu tio-avô tinha morado em Vacaria, onde eu nasci. Penso que ele continuou...

Sou muito orgulhoso de minha ascendência libanesa. Saúde e paz! Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Ver. Estilac Xavier está com a palavra em nome da Bancada do PT.

 

O SR. ESTILAC XAVIER: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É com extrema satisfação que nos dirigimos aos senhores nesta Sessão Solene que homenageia os 58 anos de independência do Estado do Líbano. Primeiramente quero dirigir minhas palavras aos dois proponentes: ao Presidente Fernando Záchia, de descendência libanesa, gaúcho e brasileiro. Homem que aprendi a admirar e com quem trabalho conjuntamente neste período de dez meses. Aprendi com ele seu alto espírito público, sua retidão de caráter, conduta proba e ética. Não menos, afirmo aqui para os senhores, o proponente, o nosso Prefeito - e assim o tratamos pela sua experiência, pela sua conduta, retidão e honradez -, Ver. João Antonio Dib, dois exemplos de homens públicos e que produziram este momento importante de registro nesta Casa, em Sessão Solene, que é a comemoração dos 58 anos de independência do Estado do Líbano.

Estamos numa época difícil - assim falou o nosso Presidente -, onde está em jogo a soberania de povos, de seus estados, a sua autodeterminação a partir da sua cultura, das suas crenças, da sua história, a própria liberdade dos homens e a existência da democracia.

Sou um dos que, a partir da idéia de que devemos ensinar os jovens e produzir uma prática nos adultos, devemos todos amar a nós mesmos como condição inicial, amar os seus próximos e profundamente amar a diferença. Preservar a diferença, na minha opinião, é uma condição para nos mantermos humanos. É a diferença que liberta a nossa imaginação criativa, que alimenta a ousadia e que produz a história, uma história sem fim. Essa diferença é a que nós pregamos e que se preserve nas raças, na religião, na idade, no sexo, nas opções sexuais e nas idéias políticas. Onde houver a diferença, há a possibilidade da permanência dos homens, porque o singulariza, e isso é humano. Isso vale para as pessoas, para as culturas dentro de um País e para todos os países do mundo. Por isso, esse respeito é fundamental.

Infelizmente, vivemos um mundo dominado por forças econômicas, forças militares e interesses não revelados que produziram, há três meses, atos de profunda anti-humanidade, atos de terrorismo que atingiram inocentes. Atos que tentaram ser resposta a um terrorismo que talvez seja o pior dos terrorismos: o terrorismo do Estado, aquele que se faz a partir da idéia da justiça e com um discurso em cima da lei e que, portanto, inibe a reação legítima dos povos que se querem autodeterminar. Assim, vemos o mundo árabe, o nosso estimado país afegão - o Afeganistão -, com seu povo, bombardeado. Uma guerra limpa, eletrônica, afastada. Felizmente, a reação do povo brasileiro é, em 80%, de repúdio a essa ação belicista. Felizmente, essa é também a opinião pública dos Estados Unidos, não do seu Governo, mas do seu povo, que merece o nosso respeito. Felizmente, essa idéia de que não se pode massacrar a diferença vai fazer calar as bombas muito em breve. Será com muito sacrifício, mas vai fazer prevalecerem - esse é o nosso desejo - os países do mundo árabe como berço da nossa civilização - assim também eu considero.

Por isso, Sr. Presidente, registramos a nossa homenagem ao povo do Líbano. Reiteramos o nosso apreço à paz, à liberdade e a autodeterminação dos povos. Longa vida ao Estado libanês, longa vida ao povo do Líbano. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): A Ver.ª Clênia Maranhão está com a palavra e falará pela Bancada do PPS.

 

A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Ex.mo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Fernando Záchia, e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Nós queríamos, inicialmente, saudar a iniciativa do Ver. Fernando Záchia e do Ver. João Antonio Dib, proponentes desta homenagem que nos permite conhecer um pouco mais da história do Líbano e do povo do Líbano, da sua cultura, e revivermos a história de um país jovem e com um aporte tão importante para a história da humanidade.

Esta Sessão Solene se reveste de um significado especial, porque se realiza quando a humanidade necessita tanto da construção de uma cultura de paz e de respeito entre os membros da família humana, quando vivemos um momento de extrema necessidade da reafirmação da importância da construção dos caminhos para que a humanidade possa exercitar o pluralismo, a solidariedade e o incentivo à construção de um futuro onde todos os povos possam ser construídos de uma forma multirracial e de uma forma multirreligiosa.

Estamos, hoje, numa etapa da história que pensávamos que seria muito diferente. Sonhávamos o século XXI que se iniciaria vivendo um novo momento do processo civilizatório. No entanto, vivemos uma etapa de retrocesso, com o crescimento do medo, da xenofobia e do ódio entre os povos, uma etapa onde os países mais poderosos se impõem pela força, com um discurso de guerra como se ela pudesse ser humanitária.

Vivemos uma etapa onde os países que querem ser guardiões da democracia, estabelecem o fim do estado de direito, das liberdades individuais, por meio das prisões sob suspeitas de povos da mesma origem; e, apesar de todo o seu arsenal tecnológico e do avanço e aprimoramento da tecnologia bélica, bombardeiam escolas, hospitais. A represália se banaliza e a realidade nos mostra que, para cada duzentos e quarenta cidadãos do mundo, um se encontra refugiado, banido ou deslocado do seu lugar de origem.

É uma Sessão Solene que homenageia o Líbano, um país tão jovem que, com a sua coragem, sobreviveu a tantas devastações, e, localizando-se no Oriente Médio, está, nesse momento, vivendo numa região absolutamente vulnerável, à mercê de novos e grandes perigos.

Mas nós temos esperança e acreditamos que todos os seres deste planeta podem contribuir para a reversão dessa situação, onde o retrocesso se estanque e onde se recomece um longo e inevitável caminho de uma convivência civilizatória da humanidade. Viva a diferença! Viva a paz no mundo! Viva a relação respeitosa entre os povos! Viva o Líbano! Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): O Sr. Cônsul Honorário do Líbano, Dr. Ricardo Malcon, está com a palavra.

 

O SR. RICARDO MALCON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Comparecer a este Plenário para comemorar com a Cidade de Porto Alegre o transcurso da Data Nacional do Líbano, que ocorre neste 22 de novembro, é uma honraria que nos enche de orgulho e exalta, pela espontaneidade do gesto, os melhores sentimentos de civismo dos libaneses que aqui vivem; sentimentos que, nesta hora, queremos compartilhar com a população, presente nesta solenidade por meio de seus mais legítimos representantes.

Na condição de Cônsul Honorário do Líbano, fui incumbido de agradecer esta homenagem da Câmara Municipal de Porto Alegre. Mais uma vez, depois de tantos exemplos de fraternidade, demonstrados ao longo dos anos, a Capital dos Gaúchos associa-se à comunidade libanesa para saudar o País irmão que, muito longe, do outro lado do Atlântico, do outro lado do Mar Mediterrâneo, há precisamente 58 anos, conquistou sua Independência, recebendo, das lideranças internacionais, o reconhecimento de haver cumprido sua missão através dos séculos, ainda que disseminados por todos os quadrantes da Terra. Foi cultuando os valores que consagram a liberdade e o amor ao próximo que o libanês, sucessor do povo fenício, adquiriu sua identidade política, consolidando uma realidade que já se projetara na história.

O nosso Líbano, hoje independente e soberano, é uma confluência de valores espirituais, recolhidos por seus filhos em todos os recantos da Terra e por eles preservados para a história.

Por tudo isso, senhoras e senhores, no dia de hoje, 22 de novembro, podemos receber homenagens como esta, da Cidade de Porto Alegre. Somos profundamente gratos pelo seus carinho e pelo significado desta comemoração pela passagem do dia de nossa Independência. Mas queremos retribuir, com o mesmo carinho, esta manifestação que nos toca profundamente.

Sr. Presidente Fernando Záchia, há dois meses, a sociedade rio-grandense e a comunidade libanesa ficaram profundamente entristecidas com a perda irreparável de um de seus filhos mais ilustres, o Jornalista e Professor Alberto André.

Filho de libaneses, porto-alegrense de nascimento, Alberto André deixou lacunas no jornalismo, no magistério e na política de nosso Estado. Sua vida pública, sua conduta impecável, sua liderança indiscutível, legaram-nos um dos mais belos exemplos de cidadania de que se tem registro na história recente do Rio Grande do Sul. Um homem que sempre lutou pela liberdade de imprensa e pela classe que tanto amou ao longo de sua vida laboriosa. Uma pessoa marcante pela abnegação e coragem no trato de tantos problemas ligados a sua causa. Incansável contra as injustiças cometidas contra a classe, nos seus ideais, com a própria criação de uma das mais importantes escolas de comunicação, a Faculdade dos Meios de Comunicação Social, a FAMECOS, da nossa Pontifícia Universidade Católica. Uma personalidade para aqueles tantos profissionais que, durante trinta e quatro anos, o tiveram à frente da entidade que tanto amou, a Associação Riograndense de Imprensa, a ARI. Em sua memória, a Confederação Nacional das Entidades Líbano-Brasileiras decidiu conferir-lhe o diploma “Ramos do Cedro”, título honorífico que representa a consagração das virtudes maiores do homem em sociedade. Este é o mesmo cedro, a árvore símbolo da nacionalidade libanesa.

Encerro estas palavras, agradecendo este gesto dos Vereadores de Porto Alegre, comemorando em sua Casa a Independência do país amigo. E com este diploma que passo às mãos da S.ª Lourdes Cafruni André, a Nação Libanesa, na memória de Alberto André, retribui este gesto de amizade, tributado a todos nós que amamos estes dois países amigos. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(É feita a entrega da Comenda Ramos do Líbano à Sr.ª Lourdes Cafruni André.)

 

O SR. PRESIDENTE (Fernando Záchia): Neste momento, para que possamos finalizar esta homenagem - e muito bem disse o Cônsul do Líbano que a Cidade de Porto Alegre homenageia um país amigo - convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h07min.)

 

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